Na 6ª feira, como prometido, voltei ao ginásio, para descobrir que a professora das aulas aeróbicas está grávida de 6 meses e meio. É verdade. Quando lá cheguei, o meu M., que já lá estava, disse-me, meio aflito “É verdade, a professora está grávida…” assim como quem quer dizer “olha lá, se quiseres fugir para casa ainda estás a tempo!”. Mas não, não fugi. Não sei porquê, nem sempre reajo da mesma forma a notícias de gravidez e esta não me perturbou muito.
Quando a professora chegou, dei-lhe os parabéns, claro, e depois de algumas piadas sobre a minha ausência e o meu regresso, dei largas à minha curiosidade e perguntei se ela nunca tinha interrompido as aulas, mesmo no início da gravidez, quando os riscos de algo correr mal são maiores. Foi então que ela esteve a explicar que não. Que nem o poderia ter feito porque só se apercebeu que estava grávida aos dois meses. Segundo ela:
“Fiz tantas asneiras no início quando não sabia que estava grávida! Fartei-me de beber, fazia montes de exercícios, incluindo abdominais. E depois, como me continuava a vir o período, nunca pensei que estivesse grávida. Mas afinal não era o período, eram perdas de sangue devido a descolamento da placenta (!!!). Mas graças a Deus, está tudo bem, e nunca deixei de dar aulas.”.
E isto fez-me pensar em tanta coisa… Como é possível que, nuns casos, estas coisas aconteçam quase por acaso, sem planeamento, sem as pessoas terem qualquer tipo de cuidado, e é tudo tão fácil, e corre tudo bem apesar de todos os descuidos e de toda a inconsciência. E por outro lado, eu, que deixei de fumar meses antes de tentar engravidar, que deixei o ginásio com medo que não fosse aconselhável, que deixei de beber bebidas alcoólicas todos os meses depois do período fértil, com medo de que pudesse ter sido nesse mês, que quando decidi trocar de carro comprei logo um monovolume a contar com os filhos que queria ter, e nada… E quando penso que, se algum dia tiver a felicidade inimaginável de ficar grávida, vou ter medo de fazer o que quer que seja que possa colocar esse sonho em risco, que vou viver esse estado como se de um verdadeiro milagre se tratasse, todos os dias…
Será que as mulheres que engravidam sem qualquer problema, sem o desejarem sequer activamente, percebem realmente o milagre que lhes aconteceu? Será que têm consciência da sorte imensa que tiveram e que dão o devido valor a essa dádiva divina da fertilidade? E olhem que não estou a falar do amor que vão sentir pelos filhos, mas apenas da consciência de que a gravidez que carregam é, em si mesma, um milagre imenso, um tesouro a proteger e a tratar com todo o cuidado.
Conheço outro caso de uma amiga minha que engravidou também sem estar a tentar sequer e que depois disso continuou a trabalhar como uma perfeita obcecada, algumas 14 horas por dia, Sábados, Domingos, feriados, e quando eu lhe tentava fazer ver a loucura que ela estava a cometer, ela dizia sempre que tinha muito trabalho e que gostava daquilo que fazia e se sentia muito realizada e que não tinha mal nenhum. Até que, devido ao stress e aos excessos, teve que vir para casa em repouso absoluto porque aos 6 meses de gravidez estava em risco de ter o bebé. E mesmo assim, quando veio para casa, a grande preocupação dela continuou a ser o trabalho, que a empresa onde ela trabalhava não ia sobreviver sem ela (pois!) e passou a ter todos os dias a visita de colegas em casa para por o trabalho em dia! Acham isto normal? Nessa altura, até me afastei um pouco, porque tive medo de perder o comedimento e de lhe dizer algumas coisas que me iam na alma e que ela nunca iria entender… É preciso passar por algumas coisas para as entender…