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terça-feira, janeiro 17, 2006

"amigas"

Uma das maiores desilusões que tive que enfrentar desde que me vi neste mundo da infertilidade está relacionada com a indiferença com que algumas pessoas que eu julgava (umas mais outras menos) minhas amigas me têm tratado nos últimos tempos…

“Amigas” que sabem que eu sonho ter um filho há mais de dois anos e meio e que mesmo assim não são capazes de me ligar e perguntar como é que eu estou (é uma pergunta tão simples, não é?). “Amigas”, que depois, quando finalmente descobrem (porque eu lhes conto) o que se está a passar comigo, me dizem: “Eu não perguntei porque não sabia…”. Mas sabiam que tento desde Setembro de 2003, não sabiam? O que é que esperavam? Que eu tivesse pegado no telefone no fim da minha última consulta e fizesse a ronda de todos os meus conhecimentos a contar a novidade como se se tratasse do anúncio de algum casamento ou do nascimento de uma criança? Não me parece… Nunca fiz questão de esconder o meu problema, mas também não vou pôr um anúncio no jornal, desculpem lá…

Outras não dizem nada por medo que eu prefira “não falar no assunto”, como medo de me estar a lembrar do meu problema se falarem nisso. É legítimo. É um erro, porque aquilo que eu mais quero é que me perguntem para eu poder falar no assunto, e ninguém me lembra do meu problema na medida em que ele nunca é esquecido, nem por um minuto da minha vida, mas é legítimo. Quantas vezes não terei eu cometido o mesmo erro em relação a amigos(as) meus/minhas e não quis falar nalgum assunto (morte de familiares, problemas de saúde, etc) que lhes dizia respeito com medo de os ferir? Quantas vezes não optamos por ficar calados e não dizer nada só com medo de dizermos algo de errado ou de estarmos a piorar a situação em vez de estarmos a fazer algum bem? E quantas vezes não o faremos, não só por todos estes motivos, mas também porque, convenhamos, é mais fácil também para nós fazer de conta que não se passa nada do que falar abertamente nas coisas, é mais cómodo… Não sei…

Sei que muitas dessas “amigas” sempre puderam contar comigo para os seus problemas, sempre tiveram o meu apoio quando dele precisaram (é óbvio que devo ter falhado muitas vezes, não estou a querer dizer que sou perfeita, mas penso que pelo menos sempre me esforcei e fui aprendendo também com os meus erros a estar presente nos momentos mais difíceis…), mas hoje têm uma vida demasiado ocupada ou complexa para me perguntarem como é que eu estou ou para se interessarem pela minha…

Escrevo este texto hoje porque ainda ontem tive uma conversa com uma dessas “amigas”, que, embrenhada na sua própria vida e problemas (um filho recém-nascido!) me ligou a cobrar pela minha falta de amizade, e eu tive que lhe dizer tudo o que me ia na alma e tudo o que eu penso sobre a amizade dela. Foi uma conversa difícil, mas que pelo menos serviu, espero, para em breve poder tirar aquelas aspas horríveis da palavra amiga quando falo nela.

18 Comments:

At 10:02 da manhã, Blogger Alexandra said...

Musa, sei o que sentes...estou a passar pelo mesmo...tem sido muito complicado para mim, pois eu tenho sempre necessidade de falar, e as pessoas não querem ouvir as histórias de infertilidade...o apoio de que necessito tenho encontrado aqui neste cantinho, neste mundinho...porque lá fora são poucas as que falam...E aquelas com quem se consegue falar apenas vão dizendo "sim" e "pois", traduzindo, não querem nem saber até porque já têm os bébés delas que lhe dão muitas preocupações...
Não entendem que tb precisamos delas...mas tem sido aqui que tenho encontrado o apoio necessário...
Força Musa...
Beijinhos

 
At 10:24 da manhã, Blogger Luna said...

Oi Musa!
Sabes como vos compreendo, passei por mundo infertilidade apesar ter sido por pouco tempo, mas aprendi mta coisa uma das quais foi uma lição é que é nos momentos dificeis sabemos quem são os verdadeiros amigos, comigo foi +- isso aconteceu, foi duro perceber que pessoas julgei minhas amigas não compreenderam e afastaram de mim. Claro nem tudo foi mau, perdi uns mas aranjei um leque mtas amigas, essas sim são as minhas amigas aquelas tavam lá quando mais precisei, sabes que cheguei a uma conclusão, so quem passa por elas e que nos compreende e nos sabe ouvir.
beijocas
Luna

 
At 10:26 da manhã, Blogger Unknown said...

Amiga (posso chamar-te assim não posso?)
De facto encontrei na internet a compreensão que falta nas minhas amigas reais (e que são poucas). No entanto, mesmo em relação à minha família, ninguém se mostrou interessado em saber pormenores e ainda acredito que toda a gente acha que não consigo engravidar por causa do meu nervoso.
Sabes que isto das relações entre as pessoas, amizade ou não, é tudo muito complicado. Eu tento não criticar as outras pessoas pelas sua atitudes, que tanto me têm magoado. Ainda a semana passada uma amiga minha q mora em Aveiro me disse q eu andava obcecada!! E q fazia mal em ir aos encontros das amigas da internet!! Tive q me conter para não lhe dizer nada mais desagradável...acho q não vale a pena. Ela não fez por mal...
Beijinhos
Alexandra

 
At 10:33 da manhã, Blogger Bem Me Queres said...

Amiga......vês, sem aspas :))))
Infelizmente é em momentos decisivos da nossa vida (como aquele que atravessamos) que mts dos que consideravamos amigos fogem. Tento pensar que é medo por não saberem ligar connosco, mas no fundo sei que nos olham de modo diferente. Vivi um caso como o teu e desde aí essa "amiga" nunca mais perdeu as aspas.
Mas tudo isto tb tem o seu lado bom. Descobriste novas amigas e aqueles que te querem de verdade não te abandonaram.
Beijinhos doces
Cláudia

 
At 11:17 da manhã, Blogger Anna72 said...

Este assunto é um pouco delicado e cada pessoa reage de uma forma diferente. Eu, por exemplo, prefiro que não me digam nada sobre gravidez e bebés... confesso que estou farta de perguntas e de olhares estranhos. As únicas pessoas que eu sinto que falam comigo sem constrangimentos são os meus pais e sogros e, na verdade, as minhas amigas virtuais compreendem-me bem melhor que as outras.
Eu também tenho uma amiga que é capaz de passar meses sem me ligar e depois cobra pelos meus silêncios, só porque tem uma bebé deve achar que eu tenho obrigação de lhe andar sempre a telefonar a perguntar como estão! Ora bolas, também era bom que ela de vez em quando se lembrasse de mim! Enfim!
Seja tudo por um lugarzinho no céu!

Jokinhas e sabes que podes contar comigo!

 
At 11:32 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Isso depende um bocado da pessoas, há pessoas que gostam que falem no assunto, outras preferem evitá-lo. Espero que no vosso caso, tenha sido apenas um mal-entendido, um desconhecimento mesmo da parte da tua "amiga" em como lidar ctgo. De qqer forma, sempre podia ligar e e saber como estavas...
Jinhos e força p ultrapassar essa falta que te faz um filho.
Já, já estarás tu ocupada com o teu...

 
At 11:37 da manhã, Anonymous Anónimo said...

A amizade tem que ser cultivada, de ambas as partes.

Não podemos viver uma amizade olhando para o nosso próprio umbigo. Todos temos os nossos problemas, uns maiores que os outros .... mas com os problemas dos outros podemos nós bem, certo?
Daí a necessidade de dar, para merecer receber ... sem cobranças ... por amizade.

Vais ver que todos aprendem com estas crises. Pena que nos fazem sofrer.

Bjinho

 
At 12:24 da tarde, Blogger Mamã artesã said...

Oh miga, não fiques triste por causa disso.
Eu também tenho, ou tinha (já nem sei)alguns amigos que, não sei porquê, se afastaram. Mesmo aqueles a quem dissemos que estávamos à espera dum filho, nunca mais ligaram a perguntar como está a correr a gravidez. Mas não tou nem aí porque, quando precisarem de mim, lhes faço exactamente o mesmo.
Como o meu pai costuma dizer: "Só faz falta quem está".
E nós, tua amigas virtuais, estaremos sempre aqui para te apoiar naquilo que precisares.
Joquinhas
Sofia

 
At 2:13 da tarde, Blogger Kikee said...

Minha querida,

Quem passa pela infertilidade fica obrigatoriamente mais sensivel...e por vezes deixamo-nos magoar sem razão. Agora ouve um conselho de alguém que passou por isso tudo (não sei se sabes mas fiz 4 iiu´s e 1 fiv, por isso não sou inexperiente) mas que hoje vê as coisas de uma maneira diferente: às vezes enganamo-nos em relação às pessoas...achamos que nos estão a magoar por indiferença, por não falarem connosco..mas não é sempre assim. Lembro-me de sentir isso tudo que escreves no primeiro parágrafo em relação a algumas amigas naquela altura, achava-me injustiçada por elas, que não me compreendiam e cheguei a afastar-me de algumas...porém depois da minha vida ter dado uma volta de 180 graus houve coisas que pude compreender...e em conversas com essas mesmas amigas, que eu achava que me tinham ababdonado, percebi que nunca tinha sido essa a intenção delas e sim o pouparem-me a falar de um assunto que já influenciava tanto a minha vida. Apenas por isso evitavam o tema infertilidade...e ao falarem de outras coisas, quando eu achava que me estavam a ignorar, não estavam senão a tentar ajudar-me à maneira delas. Demorei tempo para perceber isto amiguinha, e foi preciso que as coisas mudassem muito para entender certas coisas, foi preciso ser obrigada a redefinir prioridades. É nessa qualidade, com a experiência que só o tempo me deu, que te escrevo isto: não tires conclusões precipitadas linda. Terás razão em alguns casos, mas antes de agires certifica-te que não estás tu a ser injusta. Eu fui. E arrependo-me por isso.

Desculpa o testamento e espero que não tenhas levado a mal, foi com a melhor das intenções tá?

Muitos beijinhos

 
At 2:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Este tema é daqueles!!!! Difíceis!!!

Nós não sabemos o que vai na cabeça das outras pessoas.
Mas acho uma coisa, a partir do momento em que nos abrimos com as nossas amigas e contamos a verdade elas têm o dever de perguntar, não quer dizer q seja sempre, mas pelo menos de vez em quando.

É claro que também perdi algumas "amigas" neste processo, mas também ganhei outras, que passaram de virtuais a amigas de carne e osso.

A vida é assim mesmo, feita de mudanças. E são estas mudanças que nos fazem crescer e aprender.

Excusavam de ser tão dolorosas!!!

Beijos
Pi

 
At 2:38 da tarde, Blogger Musa said...

Claro que não levo a mal, Kiki! E agradeço todos os teus conselhos...
Beijinhos

 
At 5:34 da tarde, Anonymous Anónimo said...

olha amiga qd li o teu post identifiquei-me muito com ele. As tuas palavras até podiam sr as minhas, mas depois de ler os comments da nossas amigas tb sei q elea têm razão, as vezes as coisas não saõ como parecem e as atitudes ne~m sempre têm o valor que nós lhe damos. Isto é tudo mtro subjectivo, mas para mim quem me faz 1 vez já não faz a segunda. e essas "amigas" q se têm afastado e q de vez em qd se lembram de cobrar têm cá guardada uma lembrancinha para elas. pq como eu costumo dizer eu até posso entender os motivos dos outros, mas não me esqueço das atitudes. bjs Tuga

 
At 5:59 da tarde, Blogger Bunny said...

Sabes o que eu te digo?
Amigas como nós...nao há...eu tenho algumas amigas com quem posso contar sempre...mas amigas que sabem o que nos vai na alma...só vocês...
E sabes que mais?? Sinto-me a mulher mais sortuda à face da terra! Porque conheci mulheres lindas e sinceras e lutadoras como tu!
Estamos aqui SEMPRE!
Adoro-te, amiga!
Um beijinho cheinho de ternura e de esperança
Rita Bunny

 
At 6:09 da tarde, Blogger Penélope said...

Olá Musa, o teu post transpõe uma situação por que já todas passamos. Eu concordo (em parte) com o que escreveu a Kiki; a mim a idade já pesa (tenho 35 anos) e a vida já me deu muitas lições; uma delas foi a identificar e a conhecer muito bem os verdadeiros amigos.
Não existem duas pessoas iguais no mundo, somos todos diferentes, cada um com o seu feitio e cada um com a sua forma de encarar os problemas – é como disseste, poderia ser infertilidade, uma doença cancerígena, separação/divórcio, dinheiro, etc, etc. cada um encara os seus problemas e os problemas dos amigos à sua maneira; uns de uma forma que, na nossa perspectiva, nos agrada, outros de forma que não nos agrada, mesmo nada!
Por exemplo, eu não gosto, não quero falar com os meus amigos acerca da minha infertilidade, pelo que até agradeço que não me perguntem nada - escuso de ser evasiva!
Mas uma coisa é certa, os verdadeiros amigos nunca nos ferem por prazer; se não perguntam, se perguntam, se prestam ajuda, se não prestam ajuda é porque na maneira deles essa é a única maneira que ele têm de nos ajudar ou, de não nos ferirem.
É claro que existem amigos egocêntricos, que só se preocupam com os problemas deles, mas um amigo de verdade não ofende por ofender – se não age como nós entendemos é porque tem receio, pudor, medo de nos magoar.
Á 10 anos atrás passei pela morte do meu pai e vivi de perto várias reacções amigas. Percebi que existem assuntos, mesmos entre amigos, que são muito sensíveis e que é a parte «mais fraca»/ou com o problema, que tem de cultivar a amizade nos momentos mais difíceis, ou seja, indicando aos amigos a forma de agir, a forma que nós entendemos correcta para encarar o assunto. Se os amigos nos entendem, tudo bem, se não...eu por exemplo prefiro me afastar dos que não entendem.
Nunca me esqueço de um abraço que um amigo meu me deu quando o meu pai faleceu; apenas me abraçou, não disse nada, nem uma palavra, naquele momento e nas alturas seguintes. É isto que tens de entender, cada pessoa encara os problemas de forma diferente.
Dá tempo ao tempo, de certeza que num futuro próximo vocês as duas saberão avaliar, ponderadamente, a vossa amizade.
Envio-te um abraço muito amigo.
Penélope

 
At 9:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Olá amiga,
A infertilidade(infelizmente) ainda é um tema tabu para muita gente.Eu não podia estar mais de acordo com as palavras da Kiki.
Há pessoas que não nos perguntam nada com receio de nos magoarem, eu própria tenho dias que estou muito predisposta a falar do assunto, outros nem por isso... Relaxa, não encares as atitudes das pessoas como se elas não gostassem de ti, isso deixa-te stresada e não vale a pena.
Um beijinho de uma verdadeira amiga (apesar de não nos conhecermos sempre "vi" em ti uma pessoa formidável).
Daisy

 
At 11:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É verdade á gente capaz de tudo, eu ás vezes fico doida com certas pessoas, de onde menos se esperam é que elas saem...
Mas que se lixem um dia vais dar-lhes a novidade em primeira mão e elas vão engolir um sapão cheio de pregos...
Tem calma n~qo ligues...
Beijokinhas
Matilde

 
At 12:51 da manhã, Blogger Josy Medeiros said...

Este assunto ainda é bastante complexo de ser falado com muitas pessoas, eu particularmente, não me sinto tão a vontade de falar sobre ele... tenho que dizer que até me sinto mais à vontade com pessoas que estão a passar pela mesma situação!
É claro que faz muito bem desabafar,compartilhar o que estamos sentindo o coração agradece.

 
At 9:39 da manhã, Blogger Clara said...

Fizeste muito bem, querida.

Isto tem mesmo de haver 1 meio termo entre o "então, nunca mais te decides? não vais p nova" - sem saberem do q se trata até à pura indiferença devido ao facto de só olharem p o umbigo delas, sem que nos considerem amargas, como já me disseram.

Só te digo, ouve-se de tudo 1 pouco, mas enfim...

Desejo que resolvas essas aspas todas e que acrescentes umas exclamações de alegria por estes dias.

beijos

 

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