Dar a cara...
Quando surgiu esta ideia da reportagem, atirei-me quase de cabeça e não pensei duas vezes antes de me disponibilizar para ajudar, para dar a cara e contar a minha história e a nossa história, mas, à medida que a hora de aparecer se aproxima, confesso que começo a ficar algo apreensiva… Apreensiva não por revelar ao mundo a minha situação, mas por não ter a certeza que o (meu) mundo esteja perfeitamente preparado para ouvir o que vou dizer, por não saber muito bem como é que as pessoas que fazem parte do meu dia a dia vão reagir… Se não tenho dúvidas em relação à família e aos amigos mais próximos, já em relação ao meu local de trabalho, não posso dizer o mesmo…
Trabalho numa empresa em que a maior parte dos trabalhadores são homens, inserida num meio essencialmente rural, e não sei como é que este mundo vai ouvir e reagir a esta revelação da minha intimidade… Preciso (até pelas funções que desempenho) que eles me respeitem e até hoje é isso que tem acontecido, mas tenho algum receio de que isso possa mudar depois da reportagem… Ou talvez esteja a fazer uma tempestade num copo de água e a sofrer por antecipação (como sempre!) e eles me surpreendam e me dêem todo o apoio… Não sei… Sei que há coisas que eu não vou tolerar ou aceitar: Pena, por exemplo… Espero sinceramente que ninguém venha ter comigo como se eu fosse uma coitadinha e me trate como alguma vítima indefesa digna de piedade…
De qualquer maneira, apesar de todos estes receios e de todos estes medos, não me passa nem por um momento pelo pensamento desistir desta colaboração… Assumi que o faria, comprometi-me e agora irei até ao fim, até onde acharem que posso ser útil, não só porque não gosto de voltar atrás com a minha palavra mas também por continuar a achar que é por uma excelente causa, que é importante e que as vantagens para todos os que são afectados por este problema serão sempre maiores do que os eventuais inconvenientes que essa exposição possa trazer para a minha vida… Espero não estar enganada…
Mais uma vez, nesta decisão e neste passo que estou a dar, foi fundamental o apoio do meu M. (obviamente que sem isso nunca o faria!), que tem sido de facto, para além de um marido maravilhoso, um Companheiro de Luta (sim, porque esta luta é dos dois) ideal, perfeito…