Afinal, o “meu mundo”, ou pelo menos parte dele, viu a reportagem, e as reacções começaram logo a surgir na 2ª feira de manhã. Como em tudo na vida, não há mundos ou soluções perfeitas e se é verdade que as pessoas, quando não sabem de nada, nos magoam muitas vezes com os seus comentários “inofensivos”, também o é que, mesmo depois de saberem o que se passa, não acertam sempre nas palavras ou atitudes mais apropriadas (se é que tal coisa existe!)…
Já falei aqui algumas vezes sobre estes assuntos, mas tenho que voltar a eles para vos contar como reagiram por aqui os meus colegas de trabalho…
Na 2ª feira, à medida que foram chegando aqui ao nosso departamento (trabalhamos num “open space” e eu sou quase sempre a 1ª a chegar) e me vinham cumprimentar, até me convenci que ninguém tinha visto a reportagem porque não houve o mais pequeno comentário… Até que chegou o último dos meus colegas e, ao cumprimentar-me, disse-me: “então, aparece na televisão e não diz nada a ninguém!”. Nessa altura percebi que todos os outros tinham visto a reportagem porque todos ouviram isto, calaram, e ninguém perguntou do que é que ele estava a falar… Portanto sabiam… Dei uma daquelas respostas estúpidas (o que é que eu poderia ter dito a um comentário destes?), do género: “pois, era para fazer uma surpresa…” e continuámos todos a trabalhar como se nada fosse.
E os comentários que fui colhendo nesse dia foram quase todos nesta linha: “Então agora és uma estrela de TV!” e, como podem imaginar, fiquei a perguntar-me se teria mesmo valido a pena toda esta exposição… Sentia-me nua, observada por milhares de olhares (OK, eu sou exagerada!), e completamente desprotegida… (nesta fase, as vossas palavras de apoio aqui no meu blog foram importantíssimas, nem vos consigo explicar quanto. A força que me deram aqui ajudou-me a pensar que teria sempre valido a pena)…
Determinada a tirar algum proveito para a nossa causa de tudo isto, e incentivada pelas palavras de outro colega com o qual praticamente nunca tinha falado e que foi o único que falou comigo não só da minha aparição, mas também do que me levou à televisão (é sempre, assim, não é: as palavras certas vêm de onde menos esperamos…) - da minha INFERTILIDADE - que decidi enviar um e-mail para um grupo mais ou menos alargado de pessoas aqui da empresa, com o link para a nossa petição e um pequeno texto a explicar qual o objectivo da mesma. Obviamente, enviei também para os meus 5 colegas de departamento que trabalham aqui no mesmo espaço físico do que eu…
E foi engraçado ver como todos abriram o mail, a petição, assinaram, e só um deles teve coragem (desculpem mas eu acho que foi mesmo um acto de coragem) de vir ao pé de mim e, finalmente, falar comigo sobre o assunto. Os outros continuaram muito caladinhos (e olhem que uma delas é uma mulher que trabalha na mesma secretária que eu e que embora sendo minha subordinada tem uma relação comigo de igual para igual) e não foram capazes sequer de olhar para mim, quanto mais dizer alguma coisa…
Não quero que pensem que estou a criticar, ou a dizer mal, apenas estou a contar-vos factos e a analisar as reacções de pessoas que, em outros momentos, nunca se inibiram para dar palpites sobre a minha vida: sobre como eu estava já na idade de pensar em ter filhos, sobre como isso era uma realização enorme, sobre as vantagens da maternidade, etc., etc…
Todas estas coisas que aconteceram nos últimos dois dias fizeram-me pensar imenso (até tive uma insónia descomunal hoje à custa disso) em muitas coisas: quando optamos por não contar o nosso “problema”, estamos a proteger-nos a nós ou também a proteger os outros, para que não sejam confrontados com uma situação incómoda, em que não sabem o que dizer?... Quando as pessoas ficam caladas é porque é mais fácil, ou porque acham que é melhor assim, ou porquê?... Quando finalmente sabem, será que não preferiam voltar à fase anterior e não saberem nada porque então tinham uma boa desculpa para não dizerem nada?...
Seja como for ou pelas razões que for, isso também não tem grande interesse, nem nunca afectará as minhas relações com as pessoas do meu mundo, porque eu nunca saberei como é que eu teria reagido se os papéis estivessem invertidos: teria eu sabido dizer as palavras certas ou ter-me-ia calado também, sem saber o que dizer?...
Tudo isto são apenas reflexões… Reflexões de uma mente que, apesar de muito ocupada, ainda tem tempo para estas divagações…