Abraço

Hoje de manhã, assim que estacionei no parque da empresa e saí do carro, ouvi um choro desesperado de uma mulher que estava na estrada que dá acesso à fábrica, depois de passar pela portaria.

À medida que me fui deslocando nessa direcção, apercebi-me que era uma operadora da fábrica; que junto à portaria estava um carro estranho encostado; e que um casal estava ao pé dela, a abraçá-la, enquanto ela prosseguia com o seu pranto de partir o coração…

Eram quase oito horas da manhã, horário de entrada para um parte dos trabalhadores da empresa, pelo que muitas pessoas estavam a chegar e passavam por ali, por aquele quadro de dor, deitavam uma olhadela, mas continuavam o seu caminho sem dizer nada, sem parar, enquanto aquelas três pessoas choravam.

Ao passar na portaria perguntei o que tinha acontecido: “faleceu-lhe um sobrinho que estava na América, de 21 anos.”. Á medida que me aproximava do local onde ela se encontrava pensava no que havia de fazer, se continuar o meu caminho porque ela poderia não querer falar comigo no assunto: nem nos conhecemos assim tão bem, muito pelo contrário; se parar e dizer ou fazer alguma coisa… E pensei no que gostaria que fizessem comigo se eu estivesse no lugar dela, pensei em tudo o que aconteceu comigo nas últimas semanas, e parei…

Um pouco sem jeito, aproximei-me e perguntei algo a medo… “I., sinto muito, posso fazer alguma coisa?...”, e ela abraçou-se a mim com uma força enorme e chorou nos meus braços como se fôssemos as melhores amigas, enquanto eu lhe afagava o cabelo… E naquele momento, eu tive vontade de chorar com ela…