Há coisas que nos marcam para toda a vida, por muito que pensemos que já as ultrapassámos, que ficaram para trás das costas. As feridas saram, cicatrizam, mas naquele local a pele fica para todo o sempre mais frágil, embora aparentemente ela seja igual à do resto do corpo. Fica tão frágil, que basta um pequeno toque, por mais subtil, para reabrir a ferida, para a fazer sangrar de novo… Nem sempre somos tão fortes como pensamos, ou somos, mas temos feridas por vezes demasiado profundas, que nem toda a força do mundo poderia fechar de forma definitiva e total. São uma brecha na nossa armadura, na nossa carapaça, que passam muitas vezes despercebidas, mas estão lá, os nossos calcanhares de Aquiles…
E eu também tenho os meus: os que conheço, e, quem sabe, os que não faço ideia que existem, mas que um dia, sob um toque subtil, me poderão surpreender, como me surpreendeu na passada sexta-feira uma ferida para sempre mal sarada.Via eu uma retrospectiva da 1ª temporada de uma série do segundo canal, em jeito de introdução à 2ª temporada, quando num dos excertos descubro que o menino do casal de gémeos nascidos prematuros não resistiu a uma septicemia que o atacou na UCIRN, e morreu (quase não consegui escrever esta palavra)… Foi o toque suficiente, nos escassíssimos segundos que dura um corte de uma cena de uma temporada inteira resumida em 45 minutos, para eu me desfazer num choro soluçado, sofrido, que trouxe de novo à superfície tanta dor enterrada, tanto tanto medo nunca confessado, nunca traduzido em palavras claras. Tive tanto tanto medo, tanto tanto medo, tanto tanto medo, tanto tanto medo, tanto tanto…