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quarta-feira, dezembro 19, 2007

Bonança e Boas Festas!!!

Estamos muito melhores!
Os meus bebés já não estão doentes há 1 semana e 3 dias!!!!!!
Dá gosto ver o Dinis tão bem disposto que se ri com a boca toda aberta, e abana os braços excitado por tudo e por nada! E a minha princesa radiante, com as covinhas do rosto sempre vincadas de tantos sorrisos que distribui, e sempre pronta para uma dança! É tão bom vê-los bem e felizes, que todos os outros problemas que parecia existirem se desvanecem como por magia!
A VIDA É BELA!!!!
E no próximo sábado vamos baptizar os nossos anjinhos. Vai ser uma coisa muito simples, só com os nossos pais e as nossas irmãs e respectivos, que vão ser os padrinhos. No fim vamos todos para casa dos meus pais almoçar e pronto, fica feita a festa.

E depois, o Natal no Minho!... Em casa já fizemos a árvore e pusemos os enfeites, mas não se pode dizer que se tenham entusiasmado muito. A Leonor é que de vez em quando, quando está ao colo, aponta para árvore toda feliz, e adora ver as luzinhas a acenderem, mas o Dinis nem ligou muito ainda. Vão ter tempo para isso, nos muitos Natais que espero partilhar com eles. O Dinis já se aguenta imenso tempo em pé e já arrisca dois passinhos sem qualquer apoio. A Leonor gosta mais de se sentir segura, embora agarrada a uma mão caminhe melhor que o irmão. Falar, falam muito mas não dizem nada bem definido. Sei quando querem dizer mamã (mamamamamamamamamamã), papá (papapapapapapá) e sei que entendem já muita coisa (põe a chucha, dá à mamã, não,…).
Começaram há uns dias a comida da casa, tudo ainda muito simples: batata cozida com peixe cozido, esparguete cozido com carne, arroz branco com frango.
Enfim, aos poucos os meus bebés estão a tornar-se uns meninos e são a coisa mais linda do mundo! Pergunto-me como é possível o tempo passar tão depressa, mas ao mesmo tempo anseio sempre por vê-los fazer coisas novas e por poder interagir cada vez mais com eles… São sem dúvida o melhor que me aconteceu na vida e torço muito para que todas que ainda lutam por este sonho venham a sentir este amor indescritível.

Vamos estar de férias até ao dia 3 de Janeiro, por isso não vou dar notícias nos próximos tempos. Aproveito já para desejar a todos um óptimo Natal, cheio de estrelinhas novas, que será com certeza para muitas amigas um Natal diferente e melhor do que todos os que já passaram, e para outras talvez ainda não o Natal com que tanto sonharam. A essas desejo que 2008 traga a concretização do sonho, a estrelinha tão desejada, a recompensa pela coragem e pela luta, que é tão difícil e tão desgastante. Sei que não posso falar muito porque o meu percurso foi carregado de bênçãos e de sorte, e não sofri uma milésima parte daquilo que muitas pessoas que passam pela infertilidade sofrem, mas peço-vos que nunca desistam, nunca, porque tudo vale a pena e tenho a certeza que todas conseguiremos, no fim, a(s) nossa(s) estrelinha(s).

Até 2008!

quarta-feira, dezembro 05, 2007

IIIª Parte (e outras coisas)

Fez um ano... Já passou um ano e parece que ainda foi ontem...
Festejámos com os avós, no Minho, por isso não passei por cá antes. Quando lhes cantei os parabéns, senti um nó tão apertado na garganta e tantas lágrimas de felicidade a quererem saltar-me dos olhos por vê-los ali, grandes, a bater palminhas, espantados a olhar para o bolo e para as velas, que até me engasgei... Mas não chorei... Hoje é dia de festa...
Perdoem-me mas vou continuar o meu relato, com textos longos, sentimentos nem sempre fáceis, mas é a minha terapia. É assim que estou a lidar com este lastro que trago comigo: estou a deitar tudo cá para fora. Tudo o que for possível, pelo menos. Entendo que não tenham paciência para ler tudo, mas vou ter que o fazer. Por mim, por eles...
O M., que mais ou menos por altura do nascimento dos nossos bebés ficou desempregado, também passava os dias na UCIRN comigo. Nas incubadoras, os nossos bebés estavam ligados a uma série de sensores e a um monitor que, de vez em quando começava a apitar, lançando-nos instantaneamente num estado de pânico indescritível. Aos poucos, os enfermeiros foram-nos convencendo que não havia motivo para preocupações, que a maior parte dos alarmes disparavam por mau contacto dos sensores quando os bebés se mexiam muito, e aos poucos, aprendemos a viver com aqueles apitos constantes sem grandes abalos.
Dois dias depois de ter nascido, a nossa princesa foi retirada da incubadora e colocada num berço: já respirava bem, sem necessitar de ajuda, e a médica deu-me a notícia por que eu tanto ansiava! Se até ao final desse dia no berço, tudo corresse bem, no dia seguinte ser-lhe-ia dada alta, e eu teria pelo menos a minha bebé ao pé de mim no quarto! Fiquei tão feliz, como explicar! Sentia-me tão incompleta no meu quarto sem os meus bebés, era um vazio tão grande, que só de pensar que poderia finalmente dormir ao pé da minha filhota, abraçá-la toda a noite se quisesse, ouvi-la chorar!...
Nessa tarde, como sempre, eu e o M. estávamos sentados nas nossas cadeirinhas na UCIRN, numa pausa, junto à incubadora do Dinis, a conversar pausadamente, a olhar para os nossos bebés (o berço da Leonor não estava longe), quando do monitor da Leonor dispara mais uma vez um alarme. Convictos de que era mais um mau contacto, nem nos mexemos, mas subitamente, do fundo da sala e de outra ao lado, aparecem dois enfermeiros a correr, obviamente alarmados, e enquanto um agarra na nossa princesa e a vira de barriga para baixo, o outro começa imediatamente a administrar-lhe oxigénio. A nossa menina tinha acabado de fazer uma apneia, tinha deixado de respirar por uns momentos…
Quando finalmente nos apercebemos daquilo que tinha acabado de acontecer, não preciso de vos explicar a ansiedade e o medo que se apoderaram de mim. A minha filha tinha deixado de respirar, e se não estivesse ligada aos sensores e o monitor não tivesse apitado, eu poderia nem me ter apercebido… E queriam dar-lhe alta e mandá-la para o meu quarto para o pé de mim?... Aflita, tentei falar com os médicos, os enfermeiros, completamente perdida. Todos fizeram os possíveis por me acalmar, tentando desvalorizar aquele incidente, dizendo-nos que era perfeitamente normal aquele tipo de situações em prematuros, que mesmo que eles não tivessem intervindo, era possível que ela tivesse reagido sozinha e recomeçado a respirar por ela própria, mas a minha pergunta era uma e só uma: e se tivesse acontecido no quarto, ao pé de mim, sem sensores, sem nada, eu ter-me-ia apercebido, ou não? Depois disto, informaram-me que já não iriam dar alta à minha Leonor nesse dia. Explicaram-me que, depois de um incidente desta natureza, ela teria que permanecer pelo menos 5 dias sem qualquer tipo de ocorrência na UCIRN para poder ter alta, e acreditem ou não, fiquei imensamente aliviada, embora a coisa que eu mais quisesse no mundo era ter os meus bebés ao pé de mim.
Passados dois dias apenas, quando chego à UCIRN para a ronda das 8h00 da manhã, deparo-me com uma agitação imensa lá em cima e uma enfermeira informa-me de rompante: “vá buscar a roupa para a sua bebé porque vamos ter que lhe dar alta por falta de vagas na unidade!”. Caiu-me o coração ao chão… Num misto de felicidade e puro terror, fui ao meu quarto buscar uma das trouxinhas de roupa que tinha preparado para aqueles dias na maternidade para a minha menina, com a cabeça em efervescência: então ainda há dois dias a minha filha tinha tido uma paragem respiratória e hoje já a queriam mandar para o meu quarto por falta de vagas na UCIRN? Como é que era possível? Como é que eu ia perceber se ela voltasse a deixar de respirar? Como é que ia conseguir proteger a minha filha? Voltei à UCIRN com as roupinhas nos braços e aí sentei-me junto ao berço da Leonor, a olhá-la, assustadíssima. Entrou uma enfermeira na sala onde estávamos, olhou para mim e perguntou-me: “então o que é que se passa, que cara é essa?”, e eu, já por entre os soluços que não fui capaz de conter, só lhe consegui pedir “por favor, não me mandem a minha filha para o pé de mim se não tiverem a absoluta certeza que ela está bem, sim?”. A enfermeira foi de uma doçura que nunca vou esquecer. Sentou-se ao pé de mim e disse-me “Ser mãe não é fácil, não é? Mas olhe, não fique assim, porque voltámos a analisar a situação e a sua filhota não vai ter alta, vai ficar. E de qualquer forma, ainda que lhe fosse dada alta e ela fosse para o pé de si, iria ligada a um sensor de apneias, que detectaria qualquer falha de respiração.”. E o meu coração serenou um pouco.